domingo, 3 de junho de 2012
TransMarrocos
A verdadeira experiência em Marrocos é vivida no sul. É bem lá em baixo do país, já próximo da Argélia, que encontramos as sensações que serão memórias para toda a vida: o deserto, o horizonte árido a perder de vista, navegar por azimute no meio do nada, o calor, os cheiros e as povoações de casas de adobe, que só se encontram no sul.
Em Abril fomos a Marrocos com um único objetivo: explorar o sudoeste marroquino, andar fora de estrada e trilhar rotas por onde poucos andam.
Com uma primeira paragem em Tarifa, já do lado de lá do Mediterrâneo apontámos a agulha directamente ao sul e despachámos os kms de estrada o mais rápido possível até termos o Atlas pela frente.
A travessia do Alto Atlas de norte para sul foi feita fora de estrada, por bonitos estradões por entre pinheiros, com os cumes nevados do Atlas como companhia.
Um almoço improvisado no meio do bosque sabe melhor do que qualquer estrela Michelin.
O pastoreio é a grande fonte de subsistência dos povos de montanha marroquinos.
Uma noite num dos típicos albergues marroquinos de montanha.
Começamos a descer da montanha em direção ao Vale do Todra, acompanhando o rio e deixando definitivamente o Atlas para trás. O vale começa largo e verdejante, até ir estreitanto e ficando mais seco até à estreita passagem das gargantas do Todra, por entre paredes rochosas de 300m de altura. Só no local é que nos apercebemos da majestuosidade destas enormes paredes quando começamos a inclinar a cabeça para cima, nenhuma máquina fotográfica faz justiça suficiente a este local.
Saindo das gargantas do Todra, apontamos à travessia do Djebel Sahro ("Montanha Seca" é a tradução literal), a cadeia montanhosa imediatamente a sul do Atlas. No Sahro, a paisagem muda radicalmente: os bosques verdes e cumes nevados do Alto Atlas, ainda relativamente próximo, dão lugar a uma paisagem mais árida, mais pedregosa e castanha.
O Tizi Tazazert, o ponto mais alto do Djebel Sahro, é uma das paragens obrigatórias. Aqui começa-se a sentir a diferença do norte para o sul de Marrocos: as pessoas são mais genuínas, não nos tentam impingir tudo e começamos a sentir mais espaço, mais liberdade, tendo deixado para trás as grandes cidades com medinas apinhadas de vendedores natos.
Na descida do Tizi Tazazert acampámos no sopé da montanha, debaixo do olhar curioso das muitas crianças que parece que nascem sempre do chão, por mais isolados que pensemos que estamos.
A viagem segue até Nekob, por estradões rolantes, fantásticos, que nos dão aquele prazer inigualável de rolar a bom ritmo mas fluindo com calma pela montanha fora, a apreciar cada momento da paisagem. Um dia de sol magnífico com temperaturas agradáveis de 30 graus fazem-nos ter a certeza que a primavera é a melhor altura para viajar em Marrocos.
Continuamos para sul. Em Taghbalt acaba o asfalto, e se, até aqui vinhamos a evitá-lo, daqui para a frente não é necessário evitá-lo, porque pura e simplesmente não há. Com o Djebel Sahro já longe, não haverá mais montanhas. Começam as paisagens com um aspecto mais desértico. Daqui para a frente vamos explorar caminhos menos transitados, como o que liga Tazarine a Oum Jrane por um oued (rio) seco, o Oued Taghbalt. A maioria das rotas segue por pista de terra a contornar o Oued, apenas os 4x4 se aventuram por este vale de areia fina que agarra tudo o que lhe pisa. Nós também fomos pelo Oued. O resultado: 4 horas para fazer 6km.
De Oum Jrane seguimos para oeste, contiunuando a explorar o grande sul de Marrocos, agora mais perto da fronteira com a Argélia.
Uma super omolete a meio do dia para retemperar forças.
Fechamos mais um dia de maravilhosas pistas abertas, alternando entre piso de lama seca, calhau redondo, calhau pontiagudo, e sempre muita areia pelo meio. É impossível fartar-se destas paragens. No dia seguinte há felizmente mais. É viciante.
Chegados a Merzouga é hora de descansar como deve ser, com todas as "comodidades" de um bivouac no meio do Erg Chebbi.
De Merzouga apontamos a agulha da bússola ao norte, é hora de regressar, com muita vontade regressar já na próxima oportunidade. Alguma chuva pelo caminho, travessia de ferry, et voilá: Assalam Aleikum, Marrocos!
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